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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

História da Sexualidade

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“Só se vence o ódio ou a indiferença com o poder da invenção do amor em dar inesperadamente muito mais do que foi perdido” Anônimo.

História da Sexualidade

Gêneros sexuais



A sexualidade como objeto da história.

A história da sexualidade, segundo a autora, começou a tomar corpo a partir dos 90 e desde então vem crescendo o interesse por parte dos historiadores no que se refere ao corpo, ao desejo e as emoções, isso ocorre por parte graças aos estudos da historiografia e pela evolução das mentalidades. A sexualidade é um algo que vai além da compreensão pela sua complexidade nas relações humanas, pois ela transcende a psicanálise, psicologia e antropologia. 





Michael Foucault



Em 1984 Michael Foucault publicou um trabalho chamado a História da Sexualidade onde retratava essa experiência na sociedade burguesa vitoriana, explicando o porquê desse pudor herdado até o séc. XIX. 








A história da mulher e do homossexual é parecida no sentido de conquistarem seu espaço na sociedade e nas lutas pelos seus direitos, suas batalhas começaram no inicio dos anos 70 no mundo acadêmico.

Existem mais estudos sobre a sexualidade feminina do que a sexualidade masculina, a virilidade era vista como algo exclusivamente masculino e se isso falhasse, perante a igreja e a sociedade era considerado como uma falha da pessoa, por isso muitas vezes o homem era perseguido por esses órgãos por falhar como o seu “objetivo natural”. 



A história da mulher por sua vez, ela é sempre tratada como a “coitadinha perseguida”, ou vitima rebelde, limitando-a a aceitar os mesmos ditames criados pela mesma sociedade e igreja que condena o homem por não ser tão “viril”.




Há duas questões homossexuais que se fundamentam entre si: 
1ª. O estudo aponta as diferenças no tempo, espaço e hierarquia tanto para homens como para mulheres, por exemplo, na Grécia antiga os homossexuais tinham significado diferente do homossexual feminino.
2ª. No contexto contemporâneo era tido como terceiro sexo e se baseava na busca pelo prazer.

Os caminhos abertos por Michel Foucault – ele baseou seus estudos na sociedade burguesa do séc. XVII, e baseava se como o marco inicia que estudava a repressão a sexualidade, para ele a questão em si não era a repressão, mas a não participação das pessoas até então para se mobilizarem e fazer alguma coisa para lutar contra essa perseguição. Ele procurava um começo e não uma origem, sendo que as origens implicavam em causas e o começo implicava em diferenças, por isso ele elaborou um estudo que foi dividido em quatro partes:
1ª. A histerização do corpo da mulher
2ª. A pedagogia do sexo na criança
3ª. A socialização da conduta em procriar
4ª. A psiquiatria no prazer perverso

O autor estava tendo problemas com seus estudos e propostas pela falta de material aos estudos sobre a sexualidade no medievo, então resolveu mudar o foco dos estudos para a antiguidade greco-romana, na busca de uma hermenêutica entre si, ou seja, tentava compreender a mente humana através da interpretação dos textos escritos. Grande parte de seus trabalhos levavam a becos sem saída e sem respostas justamente por que ele estudava o comportamento humano que por sí só já era complexo, por isso não havia resposta para tudo.

Marilena Chauí

Marilena Chauí dizia que M F era um pessimista e que a idéia de libertação sexual não passava de uma critica a repressão sexual, ela procurava mostrar a positividade da repressão mostrando os pontos em que discordavam dele, por exemplo, o amor, o prazer, o desejo inconsciente.






O cotidiano da sexualidade: possibilidade e abordagens

Peter Bourque
Peter Bourque: falava sobre a morte do período medieval até os dias de hoje. Na Nova História existiam abordagens sobre a sexualidade cada vez mais expressiva incorporada pelos novos objetos que a sexualidade proporia onde falaria do corpo e as suas relações afetivas e amorosas. Havia uma escassez de informações e documentos relacionados as fontes sexuais em relação a história do sexo entre os camponeses, operários, pela população marginalizada e pelas muitas diferentes classes sociais, as únicas fontes disponíveis era aquelas disponíveis e escritas pelas classes dominantes.






Carlo Ginzburg
Carlo Ginzburg dizia que o fato de uma fonte não ser objetiva, não significaria dizer que ela fosse inutilizável, pois entre essas fontes se destacariam os processos judiciais, civis, criminais e eclesiásticos, sendo entre eles o mais importante, pois expressavam as confissões e depoimentos dos envolvidos nas suas condutas sexuais. Peter Bourque dizia para não confiarmos totalmente nisso, pois as circunstancias em que esses depoimentos eram extraídos não revelavam a verdade sobre, e sim o terror em que o depoente era obrigado a falar para não morrer. Carlo Ginzburg dizia que não existiam fontes objetivas e sim discursos socialmente produzidos.


Roger Chartier



 
Roger Chartier dizia que a importância das escritas da história era na busca da verdade dos depoimentos relatados.







Roy Porter
Roy Porter dizia que os estudos do corpo não deveriam ser desconsideradas em relação aos estudos do corpo, mesmo reconhecendo as lacunas existentes nesses estudos, por exemplo, qual era a posição que as pessoas faziam na hora do sexo no séc. XVIII? Os poucos documentos que existiam e se atreviam a falar sobre isso eram manuais de aconselhamento e desenhos com gravuras pornográficas.


A problemática da Sexualidade na Historiografia Brasileira - Na década de 80 os historiadores brasileiros começaram seus estudos sobre os temas relacionados ao sexo, ao corpo e ao desejo, até então todos baseados na Nova História francesa, bem como as idéias do movimento feminista.

Gilberto Freyre

Gilberto Freire se destacou pelos seus estudos como: Casa Grande e senzala e Sobrados e mocambos, onde relatava as relações sexuais como tema de análise no período colonial do séc. XIX, seus estudos mesmo sendo iniciais para a história sexual e cultural do Brasil foram de grande importância, pois até antes dele não havia nada que falasse a respeito. As famílias também foram motivos de estudos como o modelo particular da sociedade brasileira, questionando as visões que se obtiam das pesquisas do censo.






Ronaldo Vainfas


Ronaldo Vainfas em 1986 fez uma coletânea de artigos que falavam sobre o que já havia se produzido no Brasil desde então e o que estava se produzindo, essas produções todas eram baseadas principalmente na história das mulheres e dos homossexuais.




Esses estudos remetiam a dois eixos:
1° Eixo: ao período colonial, ao período da contra reforma e a posição da igreja baseada nos documentos da santa inquisição e do santo oficio, onde condenavam a pratica do lesbianismo no Brasil colonial.
2° Eixo: tratava da sexualidade no final do séc. XIX e inicio do séc. XX, onde se preocupariam com as novas disciplinas que assegurariam a eficácia do controle social e os estudos que se destacavam eram os referentes às prostitutas e a relação entre sexualidade e loucura.  


O campo trabalhado neste projeto é baseado na história da sexualidade e em meu caso específico é voltado para o comportamento da pessoa que tem prazer pelo fetiche ou que é praticante do fetichismo, a discussão sobre a história do corpo foi desenvolvida como uma proposta a historiografia por fazer parte do cotidiano historiográfico brasileiro, pois a disciplina é correspondente a essa realidade. O tema continua sendo bastante controverso por causa de sua natureza e o assunto abordado foi o fetiche dentro da perspectiva sexual aos meios e a maneira como isso ocorre na vida social. São apresentados modelos de construções que descrevem as características gerais da história para chegar ao cerne dessa questão proposta: o fetichismo. As informações sobre este trabalho foram obtidas através da leitura de livros propostas pela docente e o material produzido se fez através da revisão bibliográfica do material proposto.

A discussão é sobre a história do corpo por ser um tema bastante interessante, e pelo despertar da curiosidade tanto de quem pratica como de quem observa afinal as duvidas e incertezas fazem parte do presente e fizeram parte do passado, a intenção foi mostrar o porquê de tanta polêmica quando falamos de sexo e ainda mais pelo tema proposto ser considerado um distúrbio perante a sociedade, o fato é que esta age cada vez mais na vida dos adeptos e isso pode ou não configurar uma patologia, depende do ponto de vista de cada um, são opções de como as pessoas se relacionam com sua sexualidade e a maneira como ela fará depende exclusivamente de quem faz uso dessa prática, desde que isso não prejudique quem esta próximo.

Para contar a história desse fator clinicio-comportamental, o tema propõe uma divisão do trabalho em três partes produzido pelos grandes autores da modernidade onde cada um coloca através dos seus projetos realizados algumas saídas para tentar explicar por que as pessoas agem dessa maneira através de estudos sobre comportamentos na história do sexo; a maneira apresentada foi o confronto ou a semelhança das idéias concordando ou discordando dos tópicos apresentados, Foucault, Engel, Bueno e Lucia Castro apresentam detalhadamente as temáticas em itens bem explicadosconcordando ou discordando dos tpnfrontoou   questões que ficam no imaginário das pessoas sobre como é ser fetichista descrevendo minuciosamente a maneira como isso procedia.

O tema proposto ocorre na sua maioridade em nosso século, precisamente no período republicano mais voltado para o século XXI até os nossos dias, mesmo assim são citados trechos de outras épocas como um “link” para se ter um entendimento total do assunto, afinal seria impossível falar da história da sexualidade ou do sexo baseado somente na historiografia brasileira, necessitando assim de complementações de informações de outras épocas e outros locais. Neste trabalho falarei sobre a história da sexualidade e as suas ramificações “temáticas” como fetiche e constatei que o tema em geral não apresentava muitos trabalhos específicos, a generalidade do assunto aparece em poucos trabalhos, graças aos autores citados, produzi o suficiente para compreender esses fatores não no seu micro universo, mas no seu macro universo e mesmo com essa dificuldade pude realizar um excelente trabalho pela geniosidade desses autores detentores de especificidades que falam por si enriquecendo muito meu trabalho.

Breve história da sexualidade

Quando o tema proposto trabalha a sexualidade ou o sexo em sociedade é preciso ser claro quanto ao assunto abordado, pois eles podem permear muitos caminhos “capciosos”, nesse caso o fetiche é o foco de muitas “viagens’’ e interpretações que falam por si só, desmistificando toda a idéia do que se trata, para isso são necessários conhecimentos dos fatores sexuais que levam o cidadão a fazer o uso deste tipo de ato, desejo sexual ou distúrbios como muitos colocam através da utilização de práticas e acessórios ao prazer pleno para satisfazer seus desejos. Autores consagrados como Michel Foucault, Magali Engel, Maria Lucia Bueno e Ana Lucia Castro nos mostram muito bem isso em suas propostas aqui discutidas.



O primeiro texto trabalhado foi o de Michel Foucault, ele faz uma análise do que considera a denominação da ciência e do sexo, ou seja, um estudo que pretende esclarecer o aspecto do ser humano. Por volta do século XVII à sociedade ocidental multiplicou o discurso sobre o sexo para tentar enquadrá-lo e defini-lo, isso acabou por ocultá-lo, e a prática comportamental iria contra o que estava sendo pregado, pois até o século XIX, o sexo era reprimido e negado. Foucault dizia claramente que existia um projeto de iluminação de todos os aspectos sexuais, foi então que tentou ajustá-lo ao comportamento social. Criou-se neste momento um aparelho que, ao multiplicar os discursos sobre o sexo, produziria verdades sobre ele; neste momento crítico haveria uma aliança com projetos científicos, fatalmente comprometidos com o evolucionismo e com os racismos oficiais. Os discursos médicos davam a impressão de uma aura neutra científica, produzindo “verdades” sobre o sexo, mas que estariam ligados a uma moral da limpeza sobre o que seria doente e pecaminoso. A medicina do sexo se associaria a biologia evolucionista da reprodução, essa associação do discurso sobre o sexo com o discurso científico daria ao discurso empregado maior legitimidade.

O segundo texto, Magali Engel procura mostrar em seu tema principal as estratégias de comportamento focalizados no modelo disciplinar e repressivo do corpo, num “novo tempo”, onde a ética do trabalho e novos padrões de moralidade individuais se tornariam cada vez mais adequados aos “parâmetros burgueses definidores da ordem, do progresso, da modernidade e da civilização”, nesses novos planos a autora destacaria a intervenção na sexualidade feminina por um saber em processo de consolidação psiquiátrica. No terceiro texto trabalhado, Maria Lucia Bueno fala do corpo “em vogue”, descoberto pelo olhar contemporâneo, onde o corpo seria objeto de uma incansável interrogação, tudo isso de fato introduziria o corpo ao mundo globalizado pela ordem do cotidiano, mas não resultaria necessariamente em produção de conhecimento. A moda do corpo precisaria de um novo pensamento, considerado pela autora como o território da cultura; o ponto de partida desse texto da à idéia de que as culturas apropriam-se do corpo para redefiní-lo em termos sociais transformando-o e a experiência da carne seria invariavelmente atravessada pela vivência cultural, tornando-se numa fonte de símbolos, de construção de identidades e de estilos de vida. Em outras palavras: o corpo é sempre um território da cultura.

No Aurélio brasileiro fetiche significa um desvio do interesse sexual para algumas partes do corpo do parceiro, para alguma função fisiológica ou para peças de vestuário, adorno etc, mas para compreender esse “desejo” é necessário ir fundo na origem da história do corpo humano no que tange os desejos sexuais. “Os materiais disponíveis no cotidiano e as regras eram os mais claros para preencher “os” muitos silêncios e lacunas que jamais poderiam ser preenchidos, a compreensão comportamental de uma sociedade se faz pelo entendimento sendo necessário penetrar na sua complexa convivência de valores, crenças e mitos culturais diferentes dos nossos, baseados nisso, o enfoque qualificaria algo muito maior.” (Vainfas, 1997, pág. 308)¹.

Na mitologia grega, pelo texto de Bueno / Castro - Eliane Roberto Moraes o corpo era comparado a monstros mitológicos, por que dentre eles, haviam os que faltavam um ou mais órgãos fazendo uma alusão às imperfeições anatômicas de forma que dariam a entender serem criaturas andróginas, pois possuíam dois sexos, não eram nem um nem outro. Paré dizia que havia tipos diferentes de criaturas, os que eram totalmente contrários a natureza e que se baseariam no fechamento da parte vaginal através do hímen ou das carnes suplementares no caso dos hermafroditas, por isso sua associação à geração de monstros. A sexualidade se firmaria como objeto na busca da compreensão dos significados humanos e suas relações segundo Foucault, já em nossa temporalidade ele seria criticado pela ausência de estudo sobre a história da mulher, para entender melhor sua história, Engel dizia que era necessário entender a História dos homens, fato esse que resgataria a virilidade ao passo que a história da mulher geralmente era vista como rebelde ou vitima. Ronaldo Vainfas abordaria em 1986 através da Coletânea História e Sexualidade do Brasil vários artigos produzindo e os que estavam em produção revelando as temáticas sexuais marcadas principalmente pela história das mulheres e dos homossexuais, as análises não se concentravam somente no contexto colonial, mas também nas questões relativas da multiplicidade ética e cultural.

As documentações inquisitoriais seriam fontes extremamentes ricas, por apresentarem os padrões normativos e atitudes sexuais da colônia e as questões abordadas seriam práticas religiosas da sexualidade com as particularidades da sodomia e do lesbianismo. Dagoberto Fonseca cita Franz Fanon na obra Pele negra, Mascara branca o retrato de uma perspectiva biológica, social, econômica, política e psicológica a partir do branqueamento ou de seu fetiche a brancura com valor material e simbólico imposto aos colonizados sem mergulhar ou pensar a cultura afro-caribenha, enquanto matriz de resistência ou este racismo estaria pautado no fenótipo e a negrofobia residiria no imaginário sexual e na vida psíquica da maioria dos brancos em nossas sociedades esteriotipadas que perceberiam nos negros algo de genital, um quase animal sexual. A História da Sexualidade no Brasil é baseada na Nova História Cultural francesa bem como as idéias de Michel Foucault, sendo as primeiras análises históricas a sua relação à história comportamental sexual e a padronização da sexualidade, prostituição e homossexualismo entre outros que tiveram a fonte inspiradora no Brasil com Gilberto Freire e Sérgio Buarque de Holanda; o corpo do negro seria um medidor entre a cultura e a natureza como se fosse em “arquivo vivo”, para Maria Antonocci²:

“... Corpos olhavam e eram olhados num cruzamento de pulsações e desejos históricos; diferentes formas eram encontradas pelos estrangeiros se fariam presentes para serem reconhecidos, os corpos que vibravam, extraiam sons entrando em êxtase e relacionavam um dinâmico conjunto...­” Desprendia-se da análise de Fanon esse estereotipo sexual incomodaria o branco, pois isso o tornaria impotente e inferior, projetando o negro como um ser inferior e perigoso que deveria ser evitado, mas que atrairia, seduziria pelos mistérios contidos nas expressões de seu corpo. Engel diria nesse sentido da nova historiografia brasileira se distinguiria “por incorporar novos objetos e dentre eles a sexualidade, o corpo, a razão, as relações objetivas e amorosas que começariam a ocupar lugares de destaque” (Engel, 1997. p. 305)³.

Michel Foucault abordaria os caminhos abertos a história da sexualidade através de construções e tomadas em “hipóteses repressivas” sendo o marco inicial da sociedade burguesa, e seu modelo baseado na repressão da sexualidade que não seria mais pensada como elemento essencial a sociedade contemporânea, a questão agora não era mais por que éramos reprimidos, mas por que dizíamos contra nosso presente e contra nós mesmos o motivo por sermos reprimidos e ele provaria isso através de tópicos que impulsionariam a história da sexualidade e que giravam em torno de um eixo básico: aquilo que atravessaria o tempo e lugar na busca incansável no sentido de desvendar o significado mais profundo que aparentemente permaneceria oculto. Foucault diria em palavras simples que o estilo vitoriano, frearia a sexualidade, emudecendo-a e tornando-a hipócrita, tudo era motivo de ser proibitivo, tudo era razão para fechar os olhos, taparem os ouvidos e impor o silêncio em geral, assim nasceria à lógica coxa e hipócrita da sociedade burguesa, onde somente nas casas de “passe” e de “tolerância” é que poderiam ter e fazer sexo, era algo proposto que poderia ser feito as formas da realidade clandestina e na surdina.


Inquisição espanhola sobre os homossexuais
Carlos Ginzburg4 falaria que: “as dificuldades seriam algo que poderiam prejudicar o trabalho e seriam ao mesmo tempo algo que estimularia ainda mais as pesquisas dos assuntos propostos, essas fontes poderiam ser encontradas nos processos jurídicos, civis, criminosos e eclesiásticos, revelando a conduta sexual e disciplinadora que se envolveria nas vivências sexuais”. Conforme Ginzburg não existiria fontes objetivas, pois todo discurso era socialmente produzido, o sexo era reprimido com tanto rigor por que era incompatível com a aplicação trabalhista, a questão agora não era mais saber por que éramos reprimidos, mas saber o motivo de tanto rancor e tentar explicar mais ainda o porquê de tanta paixão sobre o mesmo tema.






Havia sido criado uma lista de pecados graves, eles eram separados pela sua importância, havia o estupro (relações fora do casamento) o adultério, o rapto, o incesto espiritual ou carnal, a sodomia e a caricia recíproca, tanto o homossexualismo quanto a infidelidade do casamento sem consentimento poderiam ser condenados igualmente pela sua bestialidade, a questão agora era a interrogação da sexualidade da criança, dos loucos e criminosos, o prazer daqueles que não gostavam do outro sexo, os devaneios, as obsessões, as pequenas manias e as grandes raivas. Surgiria à contra natura, ou seja, as formas condenadas como o adultério ou o rapto que assumia a sua autonomia, bem como casar com um parente próximo ou praticar sodomia, enganar a mulher ou violar cadáveres.










Estudantes: desejo de objeto fetichista
Seriam os familiares perversos, próximos aos delinqüentes e aparentados dos loucos, o sodomita relapso, o homossexual que nesse contexto se tornaria uma espécie. Eram os que se fixavam em gostos ou em práticas (fetichista), e os que investiam em relações difusas (sexualidade na relação entre médicos e pacientes, pedagogos e alunos) e os que habitavam os espaços (sexualidade do ar, da escola, da prisão) formavam os correlativos de procedimentos definidos pelo poder. Foucault dizia que todo esse tipo de perversão era uma vingança a lei repressiva de excessos, mas era uma forma paradoxal do prazer sob a investida de um prazer e de suportar a implantação das perversões que tinham um efeito instrumental e se faziam pelo isolamento, intensificação e consolidação das sexualidades periféricas as relações de poder com o sexo e com o prazer a partir da sua ramificação, multiplicação, percorrendo o corpo e penetrando os comportamentos.   

O dispositivo da sexualidade teria como objetivo a não reprodução, mas a inovação, a penetração dos corpos de forma diferenciada, as relações do poder estariam agora onde estava o desejo: seriam, portanto como uma ilusão denunciar a repressão exercida posteriormente, mas seria válido a partir da procura de um desejo relacionado ao poder. O sexo seria simultâneo e daria acesso a vida do corpo e a vida da espécie, era uma força matriz das disciplinas e das regulamentações onde o poder da fala da sexualidade e a sensualidade não eram marcas ou símbolos, eram objetos e alvos. Bueno e Castro diziam que através do processo de globalização o corpo passaria a ser um território privilegiado e agora era carregado dos símbolos dessa realidade, deixando de ser único para se tornar coletivo, realçando a importância daquilo que incorporou.




Tudo faria parte de um tempo novo, bem diferente dos primórdios da sexualidade, o contexto é outro e muitos elementos modernos foram responsáveis para isso como a tatuagem, as tecnologias e as novas simbologias atribuídas ao corpo como se fosse um horizonte geográfico descontinuo de espaço, os horizontes do corpo indicariam seu funcionamento comparado a uma espécie de paisagem, algo que teria e expressaria linhas e conteúdos naturais, isso significava uma extensão indefinida, um espaço que separa e ao mesmo tempo relaciona os elementos diferentes, tal como a paisagem dita no horizonte, os corpos sugerem separações e uniões, demarcando limites, isso igualmente o que haveria fora deles, por conseguinte todo corpo como linha no horizonte seria um imenso paradoxo.

Para finalizar, Maria Lucia Bueno e Ana Lucia Castro falam que a obsessão pelo corpo é tão antiga quanto à existência do homem e controlar o corpo poderia ser duro, ditatorial ou contrária, macia e sutil; esse controle poderia falar em nome de sacrifícios e também de prazeres, o corpo não cessaria de ser mostrado e ao mesmo tempo problematizado, pois ele sempre foi e sempre se transformou numa espécie de enigma, naquilo que teria de mais importante próximo a identidade secreta de cada um. Na modernidade, segundo Ana Lucia de Castro: “a aparência física passaria a depender cada vez mais do corpo e assim a se cuidar mais, tornando-se uma necessidade, cada passo do desnudamento não ficaria livre do constrangimento, conflitos e escândalos: a bermuda dos escoteiros nos anos 20 foi bastante censurada, pois mostrava as pernas publicamente, os biquínis nos anos 50 gerariam muitos conflitos entre pais e filhos, a ousadia das mini-saias nos anos60 escandalizariam antes de se tornar moda,os homens adotaram as bermudas como traje de passeio e não era raro usarem camisa aberta ou o tronco nu. A introdução do jeans como vestimenta ligaria a flexibilização do vestuário e o culto ao corpo, eram trajes que ressaltariam as particularidades corporais, estando longe de ser algo uniformizado, o jeans sublevaria de perto a forma do corpo, valorizando os quadris, o comprimento das pernas e as nádegas, tornando o corpo mais erótico e esguio em suas formas”.(CASTRO, 2005. Pág. 142)5.

 O fetiche - Toda essa breve história do sexo ou sexualidade na sociedade foi para dar idéia do que podemos nos transformar quando somos suprimidos demais em relação a tudo, no sexo não foi diferente a ponto de surgir essa raiz sexual denominada e representada pelo fetichista, a sociedade enxergaria esse distúrbio/prazer como um processo ou uma resposta a essas repressões a ponto de tornar o individuo um adepto a essa prática; a principio dá-se pelo prazer a um objeto ou alguma parte do corpo podendo ser acompanhado de acessórios, a “magia” é colocada em prática quando as pessoas sentem prazer por fantasias de nosso cotidiano como um soldado fardado, uma professora de colegial, um piloto de avião com seu quepe6 ou os mais radicais que utilizam de roupas intimas femininas, “brinquedinhos sexuais” e não raros os casos de praticantes que utilizam a dor para “apimentar” seus “devaneios” (ou não).

A roupa é um código social de conduta e quando dizemos que ela (a roupa) faz o monge, nos referindo a questão dos uniformes que sempre permearam o imaginário das pessoas tanto de homens como de mulheres, pois essa vestimenta desperta mais desejo por ser tanto quanto sensual do que a nudez, e podendo usar a imaginação ao desejo imaginado, além da vontade e o fetiche estarem justamente no “arrancar" desta roupa.  O fardamento masculino como militares em geral, os salva-vidas, os estudantes uniformizados, os seguranças, os médicos de jaleco, os enfermeiros, os operários (com direito a capacete) e os cowboys representam uma virilidade, uma masculinidade que desperta o desejo de qualquer um; esse desejo pode ser tanto masculino como feminino, pois as mulheres com seus corpos e trajes de colegiais, enfermeiras, “professorinhas” “atiçam” igualitariamente os mesmos desejos masculinos. O fetiche é tido como um atalho para se chegar ao prazer com a utilização de tudo o que não for animado e íntimo associado ao corpo humano, por exemplo um “chicotinho de couro” ou peças de vestuário feitas de borracha e seda, sendo esses os mais utilizados pela população.

A  prática dessa atividade pode ser feita por várias maneiras, desde a masturbação enquanto beija, esfrega e cheira o objecto do fetiche ou ele pode ser incorporado na relação sexual, pedindo para o parceiro que use sapatos de salto alto ou botas de cabedal. Existem algumas caracteristicas que se caracterizam por impulsos sexuais e fantasias sexualmente excitantes dirigidas a certas partes do corpo humano como: pés, mãos, nádegas, veias, pomos-de-adão ou peito. É importante lembrar que toda essa idéia de ter presente esses artigos não ocorre somente com roupas do vestuário feminino utilizados no travestismo ou instrumentos utilizados para a estimulação táctil como um vibrador, isso pode ser explicado por acontecimentos que remontam a infância da pessoa, possivelmente tem a ver com uma relação particular aos objetos ligados a um vínculo afetivo no decorrer de sua formação na infância e adolescência: “... a sexualidade múltipla apareceria com a idade - sexualidade do bebê ou da criança...” (FOUCAULT, 1994. p.   )7

Na psicologia o fetichismo é um padrão de comportamento sexual onde na maioria das vezes a fonte predominante de prazer não se encontra no ato de praticar sexo e sim em outras atividades, são considerados também parafilias os padrões de comportamento em que o desvio se dá não no ato, mas no objeto do desejo sexual, ou seja, no tipo de parceiro. Em determinadas situações, o comportamento sexual pode ser considerado perversão ou anormalidade, depende do artefato a ser usado, esse objeto é representado simbólicamente pela penetração, além de apresentar claro a conotação sexual, é um objeto parcial e não representa quem está por trás do objeto.  

O processo histórico no Brasil ocorreu desde o inicío da colonizaçao pela atração dos corpos negros tanto por homens quanto por mulheres, não necessariamente com a conotaçao sexual dos dias atuais, mas no equivalente a sua época, a ponto de iniciar alguns problemas quando os brancos procuravam os negros “sarados” para fazerem sexo em pleno época colonial e republicana extremamente racista, isso acarretaria problemas de ordem racial, pois estavam começando um fluxo de brancos fazendo sexo com negros e isso era repudiado na politica social da época, felizmente esse tipo de preconceito foi enfraquecendo com o passar dos tempos e hoje as pessoas se relacionam a seu “bel prazer” não obedecendo a mais nem uma regra ou padrão definido a ponto do fetiche se transformar em algo rentável utilizado pela sociedade ocidental, nesse contexto especialmente no Brasil os pés são o objeto de desejo e essa adoração recebe  o nome de podolatria, além de fazer uso de sapatos e roupas íntimas, tudo isso é usado também em práticas de sadomasoquismo, a podolatria é um tipo particular de fetiche cujo desejo se concentra nos pés e sua forma de agir é feita por  atos comuns que levam-no a ter excitação e prazer sexual através do ato de ver, tocar, lamber, cheirar, beijar ou massagear os pés de outra pessoa; raramente um fetichista tem prazer com os próprios pés.

Esse desejo sempre é direcionado para uma parte específica do corpo e adquire o caráter exclusivo da fixação. Existem outras maneiras e manias de praticar o fetiche já mencionadas em outras partes do corpo, um fetichista pode ser estimulado por elementos que para muitas pessoas seria considerado repulsivo, como por exemplo, o desejo por solas dos pés, outros por mãos, outros por certos tipos de calçados ou meias; existe um traço que permite distinguir o fetichista do sadomasoquista submisso, é o fato de que no caso do podolotra, ele se reveste de um valor estético, que por si só já o excita. Enfim, certo ou errado, profano ou sagrado todos temos um pouco de fetichistas e um pouco de púdicos, cabe a cada um de nós saber dosar a exata a proporção em que nos encaixamos e assim podemos fazer bom uso desse desejo.

Conclusão - Toda a história em si esta embutida de significados, desejos e “devaneios”, cabendo a quem interpretar esses elementos tirar suas conclusões, o fetiche pode e na maioria das vezes é compreendido como um desvio de conduta, mas para chegarmos a essa conclusão foi preciso saber o que levou o sujeito a esse pensamento, e a base para isso foi viajar na origem do problema. A impressão que tive durante esse projeto, segundo as palavras de Foucault é de que por ser proibido tem-se a idéia de que é melhor, como se dissesse não faça isso por que não pode e então fazemos. Foram abordados temas que em muitas sociedades isso representaria uma negação ou um radicalismo social e racial, afinal quase ninguém fala abertamente que tem prazer um fazer sexo com um “negro parrudo” ou admitem que na família sua filha faça uso de “brinquedinhos” ou “praticas solitárias sexuais” para esconder sua sexualidade ou até mesmo um filho que é “muito” amiginho do filho do vizinho que tem um comportamento “esquisito”.

Os autores dessas obras colocaram de maneira clara o porquê de isso acontecer e vão mais a fundo quando apontam naquilo que sempre nos recusamos a ver, o nosso desejo falar por si e não nós acharmos que somos donos da situação. Se o fetiche é praticado, isso se dá pelo fato das pessoas apresentarem necessidade de fazer uso disso, mesmo que vá contra as ditas “regras” impostas pela sociedade. Foucault, Engel, Vainfas e Bueno nos mostram toda essa diversidade comportamental e ainda direcionam para tendências que fazem parte da vida dessas pessoas não tão distantes assim de nós. Os textos na sua maioria apontaram caminhos aos estudos feitos nesse trabalho como pontos que indicavam os comportamentos que permeiam a sociedade brasileira desde a sua formação bem como qualquer outra sociedade, mudando apenas o local e a pratica de como isso era feito, no caso da diversidade, cada sociedade faz a sua maneira, quando se trata de sexo ou sexualidade “o fazem” com pudor ou não, e isso no Brasil foi como um caldeirão de experiências, pois fomos formados por todo tipo de etnias, cor, regiões e somo o exemplo de que se tratando se sexo, temos mais vantagem sobre os outros por angariarmos todo tipo de conhecimento que não e além do nosso.

Todos temos nossos desejos, uns mais íntimos outros nem tanto, mas o fato é de que todos temos nossa parcela de fetichista, ora em desejarmos alguém mesmo que em pensamentos ora por nos expressamos inconscientemente quando somos despertados por algo que nos chama a atenção, a sociedade ainda proíbe o pensar e falar, mas os tempos mudaram para essa realidade moderna sendo ela sexual ou não, faz parte de nossa formação por mais discreta que possa parecer se fazendo presente em cenas diárias triviais como em usar um brinco, um calçado diferente, ou mesmo desejar algo que vá de encontro aos ditames impostos pela sociedade, isso não nos tira o direito de por que não ir em frente e tentarmos ser felizes a sua maneira.


1 CARDOSO, Ciro F. S & VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História. Rio de Janeiro: Editora Campus. Rio de Janeiro, 1997. PP. 1-23.

2. OP. CIT. EM Corpos negros: Desafiando as verdades – Maria Anatonieta Antonocci. A história cultural do corpo. BUENO, Maria Lucia. CASTRO, Ana Lucia. Corpo território da cultura de São Paulo: Editora Annablume, 1ª edição junho 2005.

3. OP. CIT. EM A sexualidade como objeto da história. História da sexualidade – Magali Engel CARDO SO, Ciro F. S & VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História. Rio de Janeiro: Campus, 1997. P.307

4. OP. CIT. EM Domínios da História. Rio de Janeiro: Campus, 1997. P.307

5. A história cultural do corpo. BUENO, Maria Lucia. CASTRO, Ana Lucia. Corpo território da cultura de São Paulo: Editora Annablume, 1ª edição junho 2005.

6. Espécie de boné com a insígnia da empresa em que trabalha, é usado por comandantes/capitão da aviação, sendo um item obrigatório na farda usado na maioria das companhias aéreas.

7. FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: Antropos - A Vontade de Saber. Relógio D Água Editores. Rio de Janeiro, 1994.

Referência

BUENO, Maria Lucia. CASTRO, Ana Lucia. Corpo território da cultura de São Paulo: Editora Annablume. São Paulo, 2005.


CARDOSO, Ciro F. S & VAINFAS, Ronaldo (orgs.). Domínios da História. Rio de Janeiro: Editora Campus. Rio de Janeiro, 1997. PP. 1-23.


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